Tomba em solo Brasileiro, o mais lindo e centenário Jatobá já conhecido!
Nossa querida Ana Maria Primavesi faleceu aos 99 anos de idade. Quase um século de vida, dos quais cerca de 80 anos foram dedicados a ciência ao campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro.
Afastada de suas atividades desde que passou a morar em São Paulo com a filha Carin, Ana recolheu-se. Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela.
Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai. Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que destacou-se por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.
Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho.
Sua morte, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que
surge a partir de seus estudos e ensinamentos.
Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.
Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos, no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da
vida. E dos saberes que ela disseminou.
Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer. Essas mudas
somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.
Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura
respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.
Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas. Como diz nosso querido
amigo Fabio Santos, parafraseando Che Guevara:
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a Primavesi inteira.”
HISTÓRIA E PENSAMENTOS BÁSICOS
Nasceu em uma família de agricultores na Estíria, estado da Áustria e formou-se agrônoma em 1942. Ela dedicou seu trabalho e pesquisa no manejo ecológico dos solos. Ana Maria Primavesi é a agrônoma que desvendou mistérios da vida no solo e sem duvida a pioneira da agroecologia no país!
Seu estudo é um ponto de virada da agricultura tropical. Ao longo de quase 70 anos de carreira, ela deu aulas, publicou 12 livros e 94 textos, artigos científicos inéditos, fez conferências e ganhou prêmios em vários países.
Ela sempre defendeu uma agricultura natural, sem agrotóxico e que valoriza a vida no solo.
“Para mim é fascinante como a terra melhora, como a água nasce, como tudo se desenvolve. A minha paixão é o solo, porque tudo depende do solo, inclusive os homens”, explica a renomada cientista.
Segundo a professora Primavesi “A agricultura convencional é a arte de explorar solos mortos. (…) as pessoas que comem agora estas colheitas, comem plantas doentes e também se tornam doentes. Uma planta deficiente somente pode gerar um homem deficiente e deficiência sempre significa doença. Por isso precisa-se a cada ano mais leitos hospitalares. Doenças antes nunca vistas aparecem, especialmente de vírus, como também nas plantas as pragas e doenças aumentam ano por ano. Em 1970 existiam no Brasil 193 pragas. Atualmente ultrapassa 650. De onde vieram? Bactérias, fungos, vírus e insetos que antes eram pacíficos e até benéficos agora se tornam parasitas. Por que? Porque as plantas são doentes nos solos doentes. E o solo é doente quando perde sua vida, sua porosidade, seu equilíbrio em nutrientes”.
Em 1946, Ana se casou com Artur Primavesi, de quem pegaria o sobrenome. Quando chegaram ao Brasil, em 1949, ambos começaram a trabalhar como agrônomos, dando início a uma relação profunda com o mundo rural brasileiro.
Visitando fazendas, conversando com agricultores, aos poucos, o casal aprendeu português e começou a escrever livros e manuais.
“O solo orgânico pode ter, em um punhado de terra, até cinco bilhões de seres vivos, desde os grandes, como minhocas, até bactérias, fungos e algas.
É um universo de vida e quem fez a gente enxergar isso foi a Primavesi.
As plantas que crescem em um ambiente rico em matéria orgânica ficam mais fortes e mais resistentes ao ataque de pragas e doenças.
“Quando você tem um ambiente em que não usa agro-tóxico, a vida é diversificada, uns competem com os outros. É um controle biológico natural. Quando você joga veneno, vir praga. O tóxico mata a vida”, defende.
De todos os livros da doutora Primavesi, o mais famoso é o “Manejo ecológico do solo”, lançado em 1979. Com força e pioneirismo, as ideias da agrônoma se espalharam pelas faculdades de agronomia e se tornaram referência obrigatória, principalmente para quem estuda manejo de solos e agricultura orgânica.
Os ensinamentos de Primavesi , também entrou no dia-a-dia de agricultores de várias regiões do Brasil.
Por exemplo, em todos os cultivos, as entrelinhas devem estar sempre cobertas, o que ajuda a manter o solo úmido, fofo e fresco. “Tudo isso enriquece a vida do solo, que vai sendo alimento de fungos e bactérias. Quanto mais formas de vida, mais saudável e mais sustentável ele fica”,
Outra recomendação de Primavesi é a rotação de culturas. A prática é positiva para a saúde do solo e também ajuda no controle de pragas e doenças. Além de não usar veneno industrial sugere também evitar as caldas e defensivos orgânicos.
Outra dica de manejo, particularmente importante para a agricultura tropical, é o uso de quebra-vento. “O vento constante desidrata as plantas, carreia a umidade do solo e das folhas, fazendo as plantas se estressarem com essa situação”.
“Respeitando o equilíbrio do solo e a natureza das plantas, nós conseguimos explorar todo o potencial genético das plantas.
Créditos: Colhemos um pout pourri de informações e de escritos sobre a obra e vida desse lindo Jatobá. Nos perdoem a falta de créditos espécíficos
Artigos para baixar aqui:
Um dos principais livros da Dra. Primavesi pode ser visualizado pelo google books clicando no link abaixo:
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